Deixei
de ter pachorra para a simpatia de borla. No outro dia confidenciei pela
primeira vez uma situação que me perseguia há muito e senti-me mais leve.
Deveria
ter por volta de 17 anos e na faculdade, numa qualquer cadeira de psicologia ou
uma merda do género (sim antes de ser engenheira tive um ano com a mania que
era artista e fui estudar cinema) tiramos um papelinho de uma tombola e
tínhamos de descrever a pessoa em 3 palavras. Aos poucos lá fomos correndo
colegas sempre com palavras carinhosas e delicodoces. Quando chegou ao meu
papel (que por acaso tinha ido parar à mãos de uma das gajas que mais curtia na
sala levei um baque.
Fria, orgulhosa e arrogante!
Fiquei
a olhar para a sala à ver quem teria tamanhos defeitos e nenhuma virtude (no
meu ponto de vista claro).
Em
menos de 5 segundos várias vozes se levantaram. Z! E eu só pensava: Estes gajos
estão doidos! Mas afinal não. Era mesmo a minha descrição. Senti-me aos poucos
a encolher, a ficar pequenina, sentir o chão fugir debaixo dos pés não é coisa
agradável de sentir num anfiteatro cheio de pessoal. E nos filmes de cinema
deles eu seria para sempre a vilã.
O que
eles não sabiam é que eu era a tímida, a envergonhada. Que estava em cinema,
com 17 anos, que era virgem, que não fumava ganza, que não andava a percorrer
as caves obscuras do Porto. Daí ser diferente e não saber como me encaixar
naquele "mundo" tão novo para mim. Ter a ânsia de me sentir
enquadrada no mundo deles sem perder os valores porque sempre regi a minha vida
(menina de coro criada em colégio de freiras).
Desde
esse dia a minha vida mudou. Mesmo quando queria chorar sorria. Sorria para
toda a gente. Perdi a capacidade de confiar na minha primeira impressão que
sempre tinha sido tão certeira. Perdi a capacidade de ser genuína e só amar
quem o meu coração ditava. Durante todos estes anos vivi no dilema de ser
simpática para as pessoas, mesmo quando não as gramava. Porque queria passar
uma imagem diferente, porque queria que não me vissem como a vilã. Queria que
as pessoas se lembrassem de mim pela positiva. Como aquela que ajuda, que está
sempre disponível, que nunca diz não. Mesmo que isso me estivesse a matar aos
poucos. Passei a viver não a minha vida mas através do reconhecimento dos
outros.
Havia
alturas em que sufocava. Porque pensava que algumas pessoas que me olhavam bem
nos olhos conseguiriam ver algum do fingimento. Que me iriam topar à distância.
Então mentalmente vinham as ordens: Sorri, fala muito, concorda com tudo o que
dizem. E assim fui vivendo com medo de magoar e ser magoada novamente.
Esse
baque perseguiu-me até à umas semanas atrás. Quando finalmente o verbalizei.
Quando decidi que era tempo de expulsar os demónios que habitavam aqui à muito.
E o
que senti? Alivio. Porque as pessoas têm de gostar de mim pelo que sou e não
pelo que querem que eu seja. Porque eu sou simpática, sou solícita, sou amiga
para quem realmente merece fazer parte da minha vida. A vida tem mostrado que
os amigos que nos conhecem realmente ficam para a vida. Quem estejamos a 1km ou
a 8000 km de viagem. Os amigos metem-se num avião assim que podem quando sabem
que outro amigo a 8000km de distância tem a vida a ruir. E vai sem cobrar nada,
apenas para o ajuda a erguer novamente as paredes e a limpar os estilhaços que
a guerra deixou. Os amigos preparam o coração e a casa dias antes da chegada
para que quem chegue se sinta em casa. Tudo isto sem cobranças, sem exigir nada
em troca. Apenas pela companhia e pelas risadas.
Os
outros, aqueles que tentei agradar ao longo dos anos já cá não estão, já não
fazem parte da minha vida. Desse ano num Mundo que não era o meu não ficou
ninguém. Foi um ano vazio (valeu apenas para conhecer o G que também não fazia
parte desse mundo). Um ano com lembranças boas e lembranças más, mas que não me
trouxe ninguém para o presente e muito menos para o futuro.
Finalmente
sinto que cortei as amarras com este passado que me perseguia. O amor que tenho
está agora muito melhor direccionado. Para quem merece, para quem me merece.
Pronto. É isso mesmo!
ResponderEliminarO fingimento topa-se a léguas e é uma perda de tempo. É melhor poucos amigos, mas verdadeiros!
ResponderEliminarGosto muito de ti... como tu és, realmente!
Beijo!